O que é a economia circular?
Definição
“A economia circular foca-se na necessidade de repensar a economia, de forma a redesenhar produtos para que possam ser ‘fabricados para serem novamente fabricados’. Esta forma de pensar sustentável permite trabalhar eficazmente a todas as escalas – para grandes e pequenas empresas, para organizações e indivíduos, global e localmente. Transitar para uma abordagem mais circular requer, sobretudo, uma mudança sistémica que constrói resiliência a longo prazo, gera oportunidades comerciais e económicas e proporciona benefícios ambientais e societais.” (Ellen Macarthur Foundation, 2020)
Fonte: www.canva.com
O Fórum Económico Mundial definiu formalmente a EC como um sistema industrial que é regenerativo, que substitui o conceito de fim de vida por restauração, orientando-se para a utilização de energias renováveis, a eliminação de produtos químicos tóxicos que prejudicam a reutilização, e a redução de resíduos através da conceção de materiais, produtos, sistemas e modelos empresariais de qualidade superior (Utrecht University, 2019).
Economia circular – escassez de recursos
Na economia atual, a sociedade beneficia de muitos produtos que cobrem quase todas as necessidades imagináveis! Este crescimento contínuo tem sido, contudo, alimentado pela utilização excessiva de recursos naturais. Hoje, mais do que nunca, a indústria está a utilizar de forma intensiva e extensiva os recursos naturais do planeta. Mas os recursos naturais são escassos e não estarão disponíveis eternamente. E não devemos esquecer que a capacidade de regeneração do planeta é lenta.
Deste modo, uma abordagem mais circular focada na redução do consumo, na reutilização de materiais e produtos e na reciclagem de resíduos é essencial se quisermos continuar a dispor de produtos que deem resposta a todas as nossas necessidades sem desperdiçar os recursos da terra e gerar impacte negativo no ambiente!
Fonte: www.unspalsh.com
Economia circular – benefícios
Sabia que a adoção de uma abordagem circular pode aumentar a produtividade dos recursos da UE em 3% até 2030, gerando poupanças de 600 mil milhões de euros por ano e mais do triplo deste valor noutros benefícios económicos? Os números falam por si, mas vamos explorar mais alguns benefícios.
Antes de avançarmos, recordemos os três princípios básicos do modelo de EC:
- redefinir o desperdício e a poluição
- manter produtos e materiais em uso
- regenerar os sistemas naturais
Consegue imaginar o que aconteceria se o desperdício e a poluição não existissem? Ou se construíssemos um mundo que reutilizasse materiais em vez de os deitar fora? E se, por último, mas não menos importante, pudéssemos não apenas proteger o ambiente, mas também ajudar ativamente a melhorá-lo?
Uma abordagem focada na EC pode realmente contribuir para uma consolidação dos alicerces deste modelo. Em termos de resíduos e poluição, o modelo de EC pode ajudar a identificar os impactes negativos da atividade económica para que possam ser evitados. Num esforço para mapear esses exemplos de impacte negativo, podemos referir-nos a substâncias perigosas, poluição do ar, do solo e da água, etc. Aplicada à conservação de bens e recursos, a EC possibilita a reutilização, o refabrico e a reciclagem para sustentar a circulação de produtos, peças e materiais na economia. Além disso, estimula a utilização eficaz de materiais de origem biológica para diferentes fins, criando um ciclo em que estes materiais circulam entre o sistema económico e os sistemas naturais. Finalmente, em relação à melhoria do ambiente, o modelo de EC investe na utilização de recursos renováveis, sendo um exemplo típico a área da mobilidade que incentiva à utilização de energias renováveis, em vez de combustíveis fósseis.
A EC procura, portanto, melhorar o desempenho dos recursos e combater a volatilidade que as alterações climáticas podem trazer às empresas. O modelo tem benefícios a um nível multiescala (isto é, na economia, nos negócios, no ambiente e na sociedade), tendo igualmente o potencial de criação de valor ao nível dos sistemas e das economias.
O modelo EC baseia-se no conceito de Reduzir, Reutilizar, Reciclar e é exatamente o oposto do modelo de Economia Linear, que se suporta no conceito de Fazer, Utilizar e Dispor, o que desperdiça recursos naturais, levando à sua escassez ou extinção.
Fonte: www.greengrease.pt/economia-circular-as-vantagens-na-producao-e-no-consumo/
Categorias de benefícios:
- benefícios ambientais
- benefícios económicos
- benefícios financeiros para as empresas (existentes e novas)
- benefícios de crescimento para as empresas (existentes e novas)
Fonte: www.canva.com
Benefícios ambientais
Como anteriormente referido, um dos objetivos da EC é afetar positivamente os ecossistemas do planeta e minimizar ou controlar a exploração excessiva dos recursos naturais. Assim, a EC tem o potencial de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e a utilização de matérias-primas. Controlando a utilização de recursos energéticos convencionais (modelo linear), reduz-se a poluição ambiental. Como o modelo sugere, reutilizar e desmaterializar resulta também em menos material e menos processos de produção, sem comprometer a funcionalidade dos produtos. Além disso, uma vez que a produção de bens (ao optar pelo modelo circular), se baseia em sistemas energeticamente eficientes e em materiais não tóxicos, a reciclagem é mais facilmente conseguida, com benefícios para a saúde e para o ambiente.
Benefícios económicos
As empresas que investem os seus recursos em novas atividades circulares estão a beneficiar de métodos de produção mais baratos, sem comprometerem a qualidade e funcionalidade dos seus produtos que, ao serem facilmente desmontáveis e reutilizáveis, possibilitam o aumento do PIB e, consequentemente, o crescimento económico (McKinsey, 2016). O modelo circular conduz também, naturalmente, a uma poupança material que origina margens de lucro mais elevadas e possibilita uma melhor posição económica, especialmente para as PME.
Fonte: www.canva.com
Benefícios financeiros para as empresas (existentes e novas)
A eficiência na utilização de materiais e nos processos de produção reduz os custos iniciais e permite às empresas criarem novos fluxos financeiros. Utilizando os modelos de EC, as empresas têm novas oportunidades de gerar lucro, pois podem criar novos produtos dirigidos a novos mercados, ao mesmo tempo que minimizam os seus custos com a utilização de medidas de eficiência energética e gestão de desperdícios. Devido à sua circularidade, o modelo também pode salvaguardar a continuidade do fornecimento, o que aumenta o potencial de rendimento das empresas.
Benefícios de crescimento para as empresas (existentes e novas)
Talvez um dos benefícios mais significativos do modelo de EC tenha que ver com o potencial das empresas para gerarem procura por novos serviços e novas oportunidades de emprego, dois bons indicadores de crescimento. Alguns exemplos podem ser:
- plataformas de venda de produtos que aumentam a sua longevidade
- reconstrução de peças e componentes e renovação de produtos, sustentados por conhecimento especializado
- empresas logísticas que apoiam a reintrodução de “produtos em fim de vida” no mercado global
A transição para o modelo de EC alerta-nos para a necessidade de reduzir as matérias-primas utilizadas. Isto pode passar pela utilização de mais material reciclado, o que ajuda as empresas a dependerem menos da volatilidade dos preços das matérias-primas. A EC está também a ajudar as empresas (e, a um certo nível, a protegê-las) de crises que possam ocorrer no contexto geopolítico mundial e que podem comprometer as cadeias de abastecimento. Este modelo dá às empresas a liberdade de confiarem nas suas cadeias de abastecimento internas, tornando-as assim mais resilientes face a acontecimentos mundiais negativos.
A EC é efetivamente referida como um excelente modelo de recuperação económica, em contextos muito desafiantes a nível mundial, como o da pandemia COVID-19 que recentemente vivemos – “uma economia circular permite um caminho tangível para uma recuperação com baixo teor de carbono, e no caminho da prosperidade” (Ellen McArthur Foundation, 2020).
Economia Circular e a UE
Fonte: www.canva.com
É encorajador que a UE esteja a colocar a EC como uma prioridade na sua agenda. Recorde-se que a Comissão Europeia defende estrategicamente a transição para uma economia sustentável e mais circular, o que pode ajudar os Estados Membros a concretizar os planos de recuperação definidos para o espaço europeu. Ao alcançar este objetivo estratégico (o que levará muitos anos a concretizar), a UE promoverá uma imagem de maior resiliência e autonomia estratégica. O objetivo último desta agenda é contribuir para a disseminação de modelos de negócio inovadores no mercado europeu, a partir da utilização de tecnologias digitais que podem melhorar a gestão eficiente dos recursos, matérias-primas secundárias, etc. A Comissão Europeia pretende também melhorar as atuais infraestruturas ambientais, mantendo um olhar atento sobre a gestão dos resíduos e da água, a redução da poluição, a proteção da saúde e a preservação do bem-estar dos cidadãos face aos vários riscos e impactes negativos (European Comission, 2020a) .
No âmbito da orientação estratégica para a sustentabilidade, a Comissão Europeia aprovou e adotou muito recentemente o Plano de Ação da Economia Circular (Comissão Europeia, 2020). O Plano faz parte do Acordo Verde Europeu e é um elemento importante da agenda da UE para o crescimento sustentável. São anunciadas várias iniciativas que abrangem todo o ciclo de vida dos produtos, desde o seu desenvolvimento e conceção até à adoção de processos de EC, promoção do consumo sustentável, etc. A iniciativa mais crucial, contudo, é a que se relaciona com a manutenção dos recursos na economia da UE durante o maior tempo possível, razão pela qual um conjunto de medidas legislativas e não legislativas estão a ser preparadas tendo em vista a criação de oportunidades reais de crescimento e valor na economia da EU (European Comission, 2020b).
O Plano de Ação da Economia Circular inclui as seguintes medidas (ibidem):
- estabelecer a produção sustentável no mercado da UE
- reforçar a importância dos consumidores e compradores públicos da UE
- focalizar e promover setores com elevada circularidade, como por exemplo os das TIC, mobilidade, embalagem, gestão de resíduos e plásticos, têxteis, entre outros
- aplicar políticas eficazes de gestão de resíduos, estimulando a sua menor produção
- promover a circularidade de uma forma que funcione para as pessoas, regiões e cidades
- liderar e participar nos esforços globais para uma economia circular
A 10 de novembro de 2020, a Comissão adotou o primeiro marco do Plano de Ação: uma proposta de regulamento para modernizar a legislação da UE sobre a utilização de baterias. Segundo o anúncio, “o objetivo é que as baterias colocadas no mercado da UE sejam sustentáveis, circulares, de alto desempenho e seguras durante todo o seu ciclo de vida, e que sejam recolhidas, repostas e recicladas, tornando-se uma verdadeira fonte de matérias-primas valiosas”.
A Plataforma Europeia de Partes Interessadas na Economia Circular é um espaço partilhado onde pode consultar toda a informação mais recente sobre a EC, participar ativamente nos debates que estão a decorrer nesta área na UE, consultar boas práticas e aceder a notícias e dicas sobre como pode transformar o seu modelo de negócio num modelo circular!
[1] https://www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/The-circular-economy-a-transformative-Covid19-recovery-strategy.pdf
[2] https://eur-lex.europa.eu/legal-content/en/TXT/?qid=1600708827568&uri=CELEX:52020DC0575