Como podem as start-ups circulares acelerar a transição para a economia circular
A transição para uma economia mais circular poderá levar à criação de cerca de 700.000 empregos na Europa até 2030, através de uma procura de mão-de-obra adicional por parte de unidades de reciclagem, serviços de reparação e outras atividades circulares.
No entanto, as abordagens circulares relacionadas com a minimização da quantidade de matéria-prima e a reutilização ou troca dos produtos existentes, encontram-se ainda numa fase muito inicial de implementação. Para aumentar o ciclo de vida dos bens e a introdução de técnicas mais inteligentes de circularidade, vários grupos de stakeholders devem trabalhar conjuntamente. Embora as contribuições das grandes empresas para este objetivo sejam inegavelmente significativas, as start-ups podem também desempenhar um papel fundamental pela sua capacidade de criarem tecnologias disruptivas. As start-ups da UE desempenham efetivamente um papel importante na transformação da economia para um futuro mais verde, contribuindo para uma aceleração da transição para uma abordagem económica mais circular.
Exploremos agora mais algumas ideias essenciais sobre start-ups circulares, identificadas pela Universidade de Utrecht (Utrecht University, 2019):
- as start-ups circulares são novas iniciativas empreendedoras que adotam o modelo de EC
- há muito pouca pesquisa sobre as start-ups circulares, apesar de elas poderem desempenhar um importante papel de liderança no plano de ação para uma economia mais circular
as start-ups circulares desenvolvem inovações que estão associadas ao modelo de EC – investem normalmente em atividades de gestão de resíduos e promovem soluções que podem ser distinguidas como “inovações circulares”, identificando com frequência novas oportunidades de produtos habitualmente desconsideradas pelas médias e grandes empresas.[1]
Fonte: www.canva.com
Algumas boas dicas a ter em consideração quando começar a pensar em transformar a sua start-up numa empresa circular (Utrecht University, 2019) são:
- examinar as operações e modelos de negócio de start-ups circulares para encontrar soluções circulares e integrar boas práticas nos seus próprios modelos de negócio
- desenvolver alianças e parcerias estratégicas com outras start-ups circulares, servindo, por exemplo, como off-takers (fornecendo um fluxo de receitas garantido durante um certo período de tempo) ou como fornecedores essenciais que asseguram a disponibilidade de capacidade de produção;
- envolver-se com outra start-up circular numa joint venture para trabalhar em conjunto numa proposta ou serviço circular
- ajudar as empresas existentes a melhorar as suas estratégias circulares, oferecendo, por exemplo, conteúdos relevantes ou informação tecnológica, uma vez que o seu modelo de negócio é um modelo puramente circular
Circularidade não é apenas reciclagem
É normal que quando se ouve falar da EC se pense imediatamente em “reciclagem”. Mas a circularidade é mais do que simplesmente reciclar! Como já foi anteriormente referido, um dos referenciais mais utilizados sobre estratégias de circularidade é o chamado 4R: Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recuperar (ibidem).
Entretanto e para abranger, de modo mais adequado, as start-ups envolvidas na criação de soluções baseadas na natureza – que procuram aumentar a utilização dos recursos dos ecossistemas e disponibilizar as vantagens que os ecossistemas geram para o ser humano – o modelo foi revisto, passando a integrar um “R” adicional – “Regenerar”.
Dois exemplos de serviços baseados nos ecossistemas que podem ajudar a compreender melhor este quinto “R” são:
- telhados ou paredes verdes
- espaços verdes urbanos, que dependem de um contributo relativamente pequeno de capital natural não renovável e investem em processos renováveis naturais
O modelo dos 5R define uma hierarquia simples de prioridades para aumentar a circularidade, na qual Regenerar assume prioridade máxima, seguida de Reduzir, e assim por diante, com o grau de circularidade a diminuir gradualmente na lista, conforme representado na imagem abaixo.
Fonte: Adaptado de Utrecht University (2019)
Estas técnicas podem ser incorporadas nos dois ciclos de recursos que definem a EC: o ciclo biológico que envolve os fluxos de alimentos e materiais biológicos (por exemplo, algodão e madeira) destinados a regressar à biosfera através de processos como a compostagem ou a digestão anaeróbica, e o ciclo tecnológico, que integra os fluxos de materiais inorgânicos ou sintéticos.
Na secção seguinte, encontrará um conjunto de ideias inovadoras relevantes para a sua start-up, que utilizam as estratégias 5R e, de uma forma ideal, materiais de base biológica juntamente com o fluxo de alimentos, conseguindo ideias inovadoras que são realmente de sucesso no mercado!
Start-ups circulares: adotando o ciclo biológico de forma mais adequada
Uma percentagem relativamente elevada (36%) de start-ups circulares trabalha a nível do ciclo biológico, enquanto as restantes 64% estão envolvidas no ciclo tecnológico. Um estudo comparativo sobre práticas relacionadas com a EC, que envolveu 46 empresas com presença consolidada no mercado, concluiu que, enquanto 57% dessas empresas estavam centradas no ciclo tecnológico, apenas 4% estavam exclusivamente envolvidas no ciclo biológico. Não obstante, a elevada percentagem de perdas e desperdício nas cadeias de fornecimento de comidas e bebidas pode impulsionar o envolvimento de empresas start-up no ciclo biológico. Cerca de um terço dos alimentos produzidos globalmente para consumo humano é perdido ou desperdiçado todos os anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o que proporciona muitas oportunidades para converter esses resíduos em produtos úteis.
É importante sublinhar que uma forte presença no ciclo biológico pode decorrer de modelos de múltiplos valores (onde os fluxos de caixa sequenciais podem ser criados a partir da utilização de resíduos de um processo como um recurso noutro processo) que tendem a ser adotados principalmente pelas start-ups. Por exemplo, uma empresa de café que gera receitas de café enquanto atividade principal, pode também gerar receitas a partir dos cogumelos “alimentados” por esses resíduos e o que sobrar após a colheita pode ser utilizado como ração animal. Tais formas inovadoras de gerar valor raramente são implementadas pelas empresas com presença mais estabelecida no mercado e que tendencialmente pretendem manter-se concentradas no seu produto principal (ibidem). Esta é mais uma razão pela qual as start-ups podem tornar-se líderes na transição circular na UE.
O crescimento das start-ups circulares e o papel dos decisores políticos
É um facto que o mercado das start-ups circulares ainda se encontra numa etapa inicial e que estas tendem a privilegiar a variedade de abordagens para otimizarem o seu contributo na transição para um modelo de EC. Algumas start-ups circulares estão mais focadas na cadeia de abastecimento, com o objetivo de promover mais atividades circulares a serem seguidas pelos seus parceiros comerciais. Em algumas situações, isso pode também levar a fusões e aquisições ou a uma incorporação legal, organizacional e/ou financeira, através de aquisições amigáveis ou agressivas, ou de joint ventures de start-ups circulares nas organizações das empresas já existentes (Henry et al., 2019).
Os decisores políticos desempenham um papel crítico na promoção de um clima favorável ao desenvolvimento e estabelecimento de start-ups circulares, ao mesmo tempo que conduzem à adoção da agenda mais ampla da EC:
- promover oportunidades de formação e apoio financeiro (sob a forma de subvenções, empréstimos a juros baixos ou incubadoras de empresas) pode ajudar os empreendedores circulares a desenvolverem novos produtos e a acederem a financiamento para alargar as suas atividades e aumentar a visibilidade e o reconhecimento da marca
- remover regulamentos que dificultam a implementação das atividades de EC ajuda a minimizar as barreiras regulamentares com que os empreendedores circulares e as grandes empresas frequentemente se confrontam, sem infringir os objetivos primários destes regulamentos
- promover a utilização de ferramentas que aumentem a procura de bens e serviços por parte dos consumidores das start-ups circulares – como por exemplo introduzir requisitos de discriminação positiva em procedimentos concursais públicos que integrem as start-ups circulares na sua proposta ou ajustar as políticas fiscais relevantes – ajudando assim essas empresas a ganhar escala e a beneficiar de economias de escala
facilitar a rede B2B, o que ajudará a consolidar a colaboração entre as start-ups circulares e as empresas já estabelecidas
[1] https://www.uu.nl/sites/default/files/disruptors_circular_start-ups_uu_e-version.pdf
[2] http://www.fao.org/food-loss-and-food-waste/flw-data
[3] https://www.uu.nl/sites/default/files/disruptors_circular_start-ups_uu_e-version.pdf
[4] https://www.researchgate.net/publication/336078237_A_Typology_of_Circular_Start-Ups_An_Analysis_of_128_Circular_Business_Models