O futuro da IdC
Tudo parece indicar que esta tecnologia continuará a desenvolver-se a um ritmo acelerado, embora o seu futuro seja uma incógnita, de possibilidades e perigos que devem ser cuidadosamente geridos, para que contribua de facto para a melhoria das nossas vidas. O próprio conceito parece quase não ter limites. Para ser bem-sucedido, requer a ligação do maior número possível de dispositivos, o que deverá permitir a recolha e processamento de elevadas quantidades de dados (ver o capítulo “Impacto da Internet das Coisas”).
Deve também destacar-se a distinção em relação à Internet de Tudo (IdT) que é um conceito de maior amplitude e que inclui bastantes mais elementos. De acordo com a CISCO (2013), “A Internet de Tudo (IdT) reúne pessoas, processos, dados e coisas para tornar as ligações em rede mais relevantes e valiosas do que nunca – transformar a informação em ações que criem novas capacidades, experiências mais ricas e oportunidades económicas sem precedentes para empresas, indivíduos e países.”. O valor da IdT é, por isso, mais amplo devido à sua dimensão social e económica, uma vez que, na sua definição, se refere tanto a processos como a pessoas (para além de dados e coisas).
De entre os conceitos que são provavelmente mais discutidos e reconhecidos como relevantes para o futuro, encontramos o de smart city. Mas o que é a smart city e qual é o papel da IdC no seu contexto?
Procurando pontos em comum nas várias definições de smart city, podemos identificar as seguintes características:
- altamente desenvolvida tecnologicamente
- elevado nível de vida
- smart people (Stryjewska, 2020)
Embora possamos pensar que as smart cities são um conceito futurista, na verdade elas são já uma realidade em muitas cidades em todo o mundo, de acordo com o Smart City Index ou o IESE Cities in Motion Index, que avaliam estruturas e tecnologias em categorias como (IMD World Competitiveness Center, 2020):
- Saúde e Segurança – exemplo, poluição atmosférica/tecnologias – comunicação online de problemas permite que sejam mais rapidamente solucionados
- Mobilidade – exemplo, congestionamento de tráfego/tecnologias – aplicações que direcionam os condutores para um lugar de estacionamento disponível, reduzindo o tempo de viagem
- Atividades – exemplo espaços verdes/tecnologias – compra online de bilhetes para espetáculos e museus
- Oportunidades Trabalho & Escola – exemplo: oportunidades de aprendizagem ao longo da vida fornecidas por instituições locais/tecnologias – os serviços online prestados pela cidade facilitam o início de um novo negócio
- Governação – exemplo, residentes fornecem feedback sobre projetos da administração local/ tecnologias – uma plataforma online onde os residentes podem propor ideias para melhorar a vida na cidade
Outra proposta para smart city sintetiza-se no seguinte modelo.
Fonte: Elaboração própria, baseada em: http://www.smart-cities.eu/?cid=2&ver=4
Neste modelo, a smart city é constituída por:
- smart economy
- smart mobility
- smart environment
- smart people
- smart living
- smart governance
Como se pode verificar, o conceito smart é muito mais amplo e envolve um número alargado de componentes, tais como Economia ou Governação (não só dispositivos e dados), podendo mesmo falar-se de uma filosofia de desenvolvimento não só das cidades, mas também das comunidades (que é, na realidade, um requisito para poder beneficiar ética e eficientemente do desenvolvimento tecnológico). O conceito smart city refere-se à surgiu da necessidade de um desenvolvimento sustentável e de uma otimização do consumo de recursos.
A palavra “smart” aparece regularmente nas várias definições de smart city e é essa a ligação à IdC. Como? Na verdade, para que a cidade seja inteligente (num contexto tecnológico), é necessário “combinar” os seus elementos. A tecnologia IdC apoia a cidade com sensores e a transferência de informação entre os mesmos. Quanto mais sensores, mais informação pode ser processada e o funcionamento da cidade pode ser mais bem otimizado, com resultados relevantes tanto em termos de utilização de recursos (também naturais) como em termos de qualidade de vida.
Fonte: Freepik
Alguns exemplos de utilização da IdC, juntamente com outras tecnologias da Indústria 4.0, nas smart cities:
- Transportes públicos – A monitorização e análise do tráfego pode contribuir para uma melhor compreensão das emissões de CO2 geradas numa cidade e permitir uma resposta em pontos particularmente sensíveis. Graças aos sensores nas paragens de autocarros e à análise do tráfego, é também possível prever melhor o tempo necessário para os autocarros (ou outros transportes públicos) viajarem de um local para outro. Desta forma, enquanto espera na paragem, o quadro eletrónico (mas também o seu dispositivo inteligente – smartphone, smartwatch, etc.) terá sempre a hora correta de chegada, que vai sendo atualizada e corrigida quando o transporte passa por outros sensores no caminho. Torna-se, por isso, mais fácil estimar quando o transporte público chegará, graças à distribuição de sensores por toda a cidade.
- Estacionamento automóvel – A utilização de sensores nas zonas de estacionamento automóvel que enviam informações para a aplicação móvel permitindo encontrar facilmente um lugar de estacionamento disponível e até reservá-lo para si.
- Iluminação na cidade – A utilização de sensores de luminosidade nas ruas que permitem ajustar o nível de luminosidade às necessidades reais da cidade, permitindo otimizar o consumo de energia, mantendo-o mais uniforme, sem aumentos/diminuições desnecessários na sua utilização.
- Eficiência energética num edifício – Utilizando sensores inteligentes que podem controlar o consumo de energia de um edifício com base no seu funcionamento, ou seja, sabendo que apenas dois andares de um edifício de seis estão ocupados, o sistema reduz o consumo de energia nos outros quatro andares.
- Segurança – A utilização de sensores de reconhecimento de impressões digitais ou de reconhecimento facial que aumentam a segurança na utilização de diferentes espaços e serviços.
- Gestão de resíduos – Utilização de sensores e dispositivos conectados tornam possível monitorizar a capacidade total dos contentores de lixo e enviar veículos para a recolha dos resíduos apenas quando é necessário. Desta forma, as empresas responsáveis por manter a cidade limpa poderão responder às informações que recebem de um modo mais eficiente – os camiões não serão forçados a circular pela cidade, priorizando os locais onde o limite total da capacidade foi (ou será em breve) atingido (Mao, 2019).
Contudo, e como já se referiu anteriormente, tantos dispositivos diferentes interligados podem constituir uma porta de entrada para ataques de hackers. É difícil garantir a segurança de todos os dispositivos e o facto de estarem interligados torna mais fácil encontrar “buracos” nos sistemas, como aconteceu em 2016, quando hackers atacaram sites populares como o Netflix, Twitter e Spotify (Kochetkova, 2016). Em qualquer caso, o ataque a dispositivos menos seguros é um dos principais riscos de segurança da IdC. Num estudo realizado em 2014, a HP referiu que quase todos os dispositivos ligados à IdC (70%) são suscetíveis a ataques devido às suas limitações de segurança (criptografia ou, por exemplo, má gestão de controlos de acesso).
Entre as questões mais sensíveis, estão também as relacionadas com a segurança dos dados dos utilizadores e o local de armazenamento desses dados. A velocidade do desenvolvimento da tecnologia nem sempre anda a par com a da sua segurança, cujos componentes podem não estar devidamente preparados, devido à rápida necessidade de implementação. Mas há, obviamente, empresas que fornecem soluções para garantir a segurança dos sistemas, como por exemplo a Bayshore que desenvolveu os sistemas SCADA que fornecem segurança de sistemas no contexto da IdC (Rot & Blaicke, 2017).
A segurança dos utilizadores deve ser claramente uma prioridade na Indústria 4.0, não só no que se refere à segurança dos dados, mas também à ética na utilização da tecnologia, considerando o seu impacte a longo prazo no ambiente e nas pessoas.
[1] Cisco. (2013). The Internet of Everything Global Private Sector Economic Analysis. Retrieved from: https://www.cisco.com/c/dam/en_us/about/ac79/docs/innov/IoE_Economy_FAQ.pdf
[2] Stryjewska A. (Nov 4, 2020) Smart City 2020 – najinteligentniejsze miasta w Polsce i na świecie. Retrieved from: https://nafalinauki.pl/smart-city-2020-najinteligentniejsze-miasta-w-polsce-i-na-swiecie/
[3] IMD World Competitiveness Center.(September, 2020) 2nd IMD-SUTD Smart City Index Report. Retrieved from: https://www.imd.org/smart-city-observatory/smart-city-index/#:~:text=Singapore%2C%20Helsinki%20and%20Zurich%20have,%E2%80%9Csmart%E2%80%9D%20their%20cities%20are.
[4] By speaking of the whole city, this is, of course, about the sensors on the bus route.
[5] T-mobile. (n.d.). Rozwiązania smart cities. Retrieved from: https://biznes.t-mobile.pl/pl/blogit/iot-smart-city-i-big-data/rozwiazania-smart-cities
[6] Mao Y. M. (Sep 26, 2019) What is the role of IoT in Smart Cities? Retrieved from: https://www.finextra.com/blogposting/17931/what-is-the-role-of-iot-in-smart-cities
[7] Kochetkova K. (Oct 26, 2016) How to not break the Internet. Retrieved from: https://www.kaspersky.com/blog/attack-on-dyn-explained/13325/
[8] HP. (2014). HP Study Reveals 70 Percent of Internet of Things Devices Vulnerable to Attack. Retrieved from: http://www8.hp.com/us/en/hp-news/press-release.html?id=1744676.
[9] Rot A. Blaicke B. (2017). Bezpieczeństwo Internetu Rzeczy. Wybrane zagrożenia i sposoby zabezpieczeń na przykładzie systemów produkcyjnych. Uniwersytet Ekonomiczny we Wrocławiu. Wydział Zarządzania, Informatyki i Finansów.